Possíveis rivais no Mundial, Chelsea e Timão já fizeram amistoso truncado
Em 09 de novembro de 2012 as 08h44
Corinthians recebeu o clube inglês no Palestra Itália em jogo marcado pela violência, em 1929. Museu do Chelsea faz referência à viagem
Corinthians e Chelsea provavelmente se encontrarão em dezembro, no
Mundial de Clubes, no Japão - se confirmarem o favoritismo nas
semifinais, claro. Em disputa, estará o título de melhor time do mundo
em 2012. No entanto, não será a primeira vez que o Timão ficará frente a
frente com o clube inglês. No tempo em que os times europeus encaravam
longas viagens de barco à América do Sul para pré-temporada, o Chelsea
veio ao Brasil para uma série de amistosos – na ocasião, nada
glamorosos. Apesar do empate por 4 a 4, o desempenho dos ingleses foi
considerado decepcionante e muito criticado na época.
O ano era 1929, e o Chelsea amargava sua quinta temporada
consecutiva na Segunda Divisão no Campeonato Inglês. A bordo do navio
“Astúrias” (usado depois como cenário para a primeira versão do filme
Titanic), foram três semanas de viagem até o desembarque, em maio, no
porto de Santos. A série de amistosos começou na Argentina, e vitórias
convincentes deixaram jornalistas brasileiros ansiosos. Outro bom
resultado contra o Peñarol, no Uruguai, só aumentou a expectativa para o
encontro com o Corinthians, campeão Paulista daquele ano.
A
excursão pelo Brasil, entretanto, começou pelo Rio de Janeiro. Com
atuações consideradas “desinteressantes”, o Chelsea empatou a primeira e
perdeu a segunda contra um combinado de jogadores cariocas – prenúncio
de que, no estádio Palestra Itália, contra o Timão, o Chelsea poderia
deixar a desejar.
Se o futebol apresentado pelos ingleses realmente decepcionou, ao
menos a partida foi recheada de emoções: oito bolas na rede, virada,
mais dois gols anulados e, assim como hoje, críticas ao “antijogo” dos
Blues.
A data do jogo é simbólica: 4 de julho,
dia eternizado na memória da Fiel pelo título da Libertadores nesta
temporada. Os primeiros minutos no lotado Palestra Itália, no entanto,
indicavam um atropelo inglês: com gols de Willie Jackson, Andy Wilson e
Sidney Elliot, o Chelsea abriu 3 a 0 e ensaiou uma goleada. Ainda no
primeiro tempo, no entanto, o Timão empatou com Gambinha (2) e Grané. De
Maria chegou a virar para o Corinthians, mas Elliot empatou e, com 4 a
4, deu números finais ao placar - o jogo ainda teve mais dois gols
anulados pelo árbitro Ângelo Benjamin Bevilacqua.
Sócio número um do Corinthians, Antônio Risaliti, hoje aos 97 anos e
vivendo em Campinas, estava na arquibancada do estádio palmeirense.
Então com 14 anos, ele lembra com saudosismo e orgulho dos anos
acompanhando o time do Parque São Jorge, mas ressalta que o Chelsea que
veio ao Brasil há 83 anos era bem diferente do time atual. Os milhões de
dólares do russo Roman Abramovich passavam longe da conta bancária, e o
futebol da equipe também não encantava em nada.
–
Eu devia ter uns 14 anos. Estava no Palestra Itália. O nosso goleiro,
Tuffy, falhou em dois gols. O Chelsea naquele ano não estava na primeira
divisão na Inglaterra, mas foi um bom jogo – recorda o torcedor.
–
No fim do ano, vou torcer para o Corinthians ganhar, vamos ver. Os dois
têm jogos antes da final, tem que ver se chegam mesmo – emenda.
Chelsea se lembra do 'time da virada'
Em
Londres, a lembrança mais marcante do duelo vem do poder de reação do
Timão. Historiador oficial do Chelsea, responsável pela escolha do
material exposto no museu construído por Roman Abramovich, no Stamford
Bridge, Rick Glanvill destaca até mesmo um apelido do Corinthians na
época, que foi justificado em campo.
– Foi um
jogo magnífico. O Chelsea abriu 3 a 1 e na época o Corinthians era
chamado de “O time da virada”. E eles saíram dessa desvantagem para
conseguir um 4 a 4. Foi um jogo lembrado no retorno – conta Glanvill.
–
Como historiador, sempre tento mostrar aos torcedores que esta viagem
foi um capítulo histórico e importante para o clube. Fomos o primeiro
clube profissional da Inglaterra a jogar no Brasil – emenda o inglês.
Para o historiador, a ida a Brasil, Argentina e Uruguai para série
de 16 amistosos (cinco vitórias, três empates e oito derrotas) foi
fundamental para que os Blues alcançassem outro patamar no futebol
inglês. Mais experientes após enfrentar equipes que formaram a base das
seleções que decidiram a primeira Copa do Mundo, entre uruguaios e
argentinos, o grupo de ingleses conseguiu levar o Chelsea de volta à
Primeira Divisão já no ano seguinte.
– Essa
excursão deveria ser mais lembrada. Não tenho dúvidas de que essa
conexão com uma cultura diferente foi importante para mudar a realidade.
Temos de ser orgulhosos disso. O Chelsea era um clube de Segunda
Divisão, não muito bom, e teve essa ideia por conta da Copa do Mundo do
ano seguinte (1930), que seria realizada no Uruguai. A intenção foi
conhecer de perto como era o futebol sul-americano, e a equipe ficou
três meses por lá. Foi uma aventura realmente épica para o clube –
explica Glanvill.
Cristo Redentor impressiona ‘Los Numerados’
As
lições nos gramados da América do Sul, no entanto, não foram só na
bola. Rick Glanvill lembra que o famoso jogo duro e catimbado deixou
traumas e influenciou até mesmo na não participação do English Team na
Copa do Uruguai, em 1930. A passagem do Chelsea pela América do Sul
começou no dia 25 de maio de 1929 e terminou em 7 de julho, com a
derrota para a seleção paulista. Contando a viagem de ida e volta de
navio, a delegação permaneceu por três meses distante de Londres.
–
Fomos nós que introduzimos as camisas com números na Argentina e talvez
na América do Sul. Isso não existia. Tanto que os argentinos chamavam o
Chelsea de “Los Numerados”. Muitas histórias que o clube não estava
acostumado aconteceram em campo: invasão de torcedores, fogos de
artifício, os jogadores apanharam com socos e chutes (risos). Tudo isso
foi contado na volta e foi um dos motivos de a Inglaterra não participar
da Copa no ano seguinte – relata o historiador.
Na
passagem pelo Brasil, além de Corinthians, o Chelsea enfrentou também
as seleções do Rio, duas vezes (um empate e uma derrota), e de São
Paulo, revés por 3 a 1. Na chegada à Cidade Maravilhosa, por sinal, a
delegação ficou impressionada com a construção do Cristo Redentor,
inaugurado dois anos depois.
– Sem dúvidas, o
país que mais gostaram foi o Brasil. Por conta da atmosfera, estádios
lotados, por ter sido a primeira vez que o clube jogou em estádio com
refletores. Os jogadores ficaram impressionados com a forma como os
brasileiros jogavam. E o interessante é que depois de tanto tempo vocês
seguem jogando com arte, drible, e nós com força – completa Glanvill.
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